KPMG sobe um degrau

A aquisição da BDO no Brasil aumenta participação da empresa no mercado de auditoria de clientes médios

O tradicionalmente sisudo e reservado mundo das empresas de auditoria tem estado agitado. Aquisições, mudanças de cenário, um crescimento exponencial no número de clientes e no faturamento das empresas vêm provocando um forte movimento de consolidação que deve continuar nos próximos meses. 

O lance mais recente foi a aquisição das operações da BDO no Brasil pela KPMG, por um valor estimado em R$ 150 milhões. A britânica BDO, que já foi sócia da Trevisan, continuará no País com outra parceira, a RCS. 
 
Não são transações isoladas. Em agosto do ano passado, a Ernst & Young adquiriu as operações brasileiras da Terco Grand Thornton e tornou-se a segunda maior empresa do mercado, atrás apenas da PricewaterhouseCoopers (PwC). 
 
O que está por trás dessa movimentação? Resumidamente, a valiosa fatia de mercado de companhias de médio porte, o chamado middle market. “Com a compra, vamos aumentar nossa participação no segmento de médias empresas”, diz Pedro Melo, presidente da KPMG. “Manteremos o foco em empresas médias e fechadas”, diz o presidente Raul Corrêa da Silva, da RCS. “Esse é o segmento que mais deve crescer nos próximos anos.”  
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As auditorias vivem no Brasil uma conjunção entre um momento de crescimento do mercado e mudanças legais. O setor estima que haja dez mil empresas médias que precisem de serviços de auditoria.  Na avaliação mais conservadora, esse número pode crescer para 15 mil até 2016, o que representa uma expansão de 50%, sem contar o aumento do número de companhias abertas e das firmas que são controladas ou fornecedores de conglomerados internacionais e que precisam também submeter seus números ao escrutínio externo. 
 
“Hoje, todas as empresas de auditoria faturam algo como R$ 4 bilhões”, diz Melo. “Nossa estimativa é que essa cifra dobre nos próximos cinco anos”, completa Eduardo Pocetti, ex-CEO da  BDO que passará a ser sócio da KPMG.
 
O crescimento quantitativo do mercado é apenas parte da explicação. Também haverá um aumento na demanda por serviços das empresas que já são auditadas atualmente. Elas têm de se ajustar a mudanças legais, como a necessidade de adaptação dos padrões contábeis brasileiros aos critérios internacionais, o chamado International Financial Reporting Standards (IFRS). 
 
Esse trabalho, que foi realizado nas companhias abertas ao longo de 2010, demandou milhares de horas de trabalho, em um mercado onde os sócios mais graduados não levantam suas lapiseiras bicolores do papel por menos de R$ 200 a hora. 
 
Não há uma estimativa confiável do tamanho desses contratos, mas apenas a compilação das mudanças necessárias, um estudo realizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em parceria com a Ernst & Young demandou cinco mil horas de trabalho. 
 
“A adaptação das empresas médias ao IFRS será o grande negócio dos próximos anos”, diz Osvaldo Nieto, presidente da subsidiária brasileira da companhia inglesa Baker Tilly.
Segundo Nieto, outro motivo aguça a cobiça dos profissionais. A expectativa do mercado é que, em 2011, as companhias abertas tenham de fazer mais uma rodada do rodízio de auditorias.  Implantado em 1999, depois dos problemas com bancos como Econômico, Nacional e Bamerindus, o objetivo do rodízio é aumentar a segurança para os investidores. Ao forçar a troca dos auditores, a CVM tornaria mais difícil que erros ou mesmo fraudes passassem despercebidos. 
 
O rodízio deveria ter recomeçado em 2009, mas a comissão adiou essa decisão para não atrapalhar o processo de migração das empresas para o IFRS. No entanto, Maria Helena Santana, presidente da CVM, já mandou avisar que os balanços de 2012 já terão de ser assinados por um auditor novo. 
 
“Assim que encerrarem os balanços de 2010, os sócios já estarão preparando apresentações e marcando almoços”, diz Nieto. “Todo mundo vai ganhar uns quilos porque é preciso visitar muitos clientes em potencial.” 
 
Melo acha essa proposta indigesta. “O rodízio prejudica muito o nosso negócio”, diz ele. Auditar clientes de grande porte como Petrobras e Banco do Brasil requer a manutenção de uma equipe dedicada que pode chegar a 50 profissionais, e esses recursos são difíceis de desmobilizar. 
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“Um sócio acostumado a auditar uma empresa petrolífera não pode ser simplesmente enviado para analisar os números de um banco”, diz Melo. Em 2004, quando houve a primeira rodada do rodízio, as empresas grandes tiveram de reduzir drasticamente seus preços para capturar clientes da concorrência, visto que os seus teriam obrigatoriamente de trocar de fornecedor. As companhias abertas economizaram um bom dinheiro, que saiu do bolso dos auditores e abriu espaço para o crescimento de outros nomes, como a Trevisan.
 
Não por acaso, as perspectivas de crescimento tornaram o mercado brasileiro alvo preferencial das empresas internacionais. Um bom exemplo é a inglesa Grand Thornton, que era associada à Terco antes da associação desta com a Ernst & Young. Depois de perder os contratos, ela associou-se a um escritório contábil, o Pryor. 
 
“Queremos aumentar nossa participação junto às empresas de varejo e nos setores imobiliário e financeiro”, diz Jobelino Locateli, principal executivo da empresa que audita a Rede Record e o Jockey Club, em São Paulo. “Não podemos ficar fora do mercado brasileiro.” 

Por Cláudio Gradilone

Nº edição: 704 | Finanças | 01.ABR - 21:00

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