Normas rígidas de transparência das empresas listadas geram resultados operacionais e financeiros

 

Melhorar as práticas de governança corporativa pode ser uma opção ou uma obrigação, dependendo da condição da companhia. Na BM&FBovespa, existem categorias que exigem normas rígidas de transparência das empresas listadas, critérios que também podem ser adotados por companhias fechadas e, conforme agentes do mercado, geram resultados operacionais e financeiros, além de qualificar a imagem da organização diante de todos os públicos envolvidos no negócio.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estabelece que esse processo se preocupa em “criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas”. O membro da Comissão de Finanças, Contabilidade e Mercado de Capitais do IBGC Mário Probst explica que a implantação dessas práticas ainda é um processo incipiente no Brasil, mas que dado seu início, é um caminho sem volta.

Para ele, essa é uma questão de mudança cultural. “Quando se fala em mudança cultural, não é só no aspecto das empresas, mas do mercado como um todo. Estamos em fase inicial, temos muitas dúvidas, mas é um processo que não tem volta”, afirma. Probst destaca que é “fortemente recomendável” que as organizações aprendam a questionar essas mudanças.

Apesar de só ter aberto capital em dezembro de 2009, o grupo de laboratórios Fleury adotou conceitos de boas práticas de governança há mais de dez anos. A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), inclusive, é considerada uma consequência desse processo pelo presidente do grupo, Omar Hauache. De acordo com ele, a cultura da empresa sempre priorizou a transparência. “Não começamos a pensar em governança  corporativa às vésperas da abertura de capital, nem motivados por ela, mas é algo que já faz parte da cultura da empresa há muito tempo”, diz. “Ela só foi reforçada quando encaramos o IPO, que era um caminho natural da governança para o grupo”, acrescenta.

O Grupo Fleury está listado no Novo Mercado (categoria da bolsa brasileira que institui regras adicionais à legislação sobre a prestação de informações da companhia, redução de riscos e equilíbrio de poder entre a diretoria e os acionistas, principalmente através do conselho de administração) e tem na governança corporativa um pilar responsável por diversas melhorias. “Para todos os stakeholders, desde o colaborador interno até os investidores, ou mesmo os fornecedores, a transparência é muito boa, até para ter acesso a capital, é mais fácil para o mercado interagir com uma empresa crível”, aponta. Hoje, o conselho de administração do Fleury é formado por nove conselheiros, dos quais três são independentes.

Assim como o Fleury, a Porto Seguro entrou na bolsa diretamente pela porta do Novo Mercado e, por isso, não sentiu os reflexos de mudar o nível de governança. O processo de abertura de capital feito em 2004, no entanto, envolveu toda a companhia na implantação das novas práticas. O diretor financeiro da seguradora, Marcelo Picanço, lembra que o IPO exigiu uma série de adaptações, como a criação de um conselho de acionistas, auditorias, divulgação trimestral de resultados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Picanço explica que a abertura de capital obriga a empresa a se explicar melhor. “A gente para de falar do ‘o quê’ para falar dos ‘porquês’, o que exige uma reflexão mais profunda do processo e traz ganhos”, pontua.

A Porto Seguro investiu em cursos internos e estruturas de gerenciamento de risco, que ajudam a dar clareza sobre o negócio e a maximizar o valor da companhia, segundo o dirigente. “Passamos por um processo de profissionalização, e sendo uma empresa aberta isso se tornou mais acelerado”, argumenta. “A gente acaba ganhando mais financeiramente também, não é só uma burocracia, mas evitar perdas para o acionista é produzir mais valor no final”, completa.

Técnicas contábeis são fatores que também agregam transparência às companhias

Além da governança, existem outros fatores colaborando para melhorar as relações corporativas no Brasil. Recente estudo da consultoria Delloite, em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com os Investidores (Ibri), mostra que a implantação das International Financial Reporting Standards (IFRS) - normas obrigatórias na elaboração de relatórios contábeis por empresas nacionais - incidiu positivamente no mercado interno. Conforme o levantamento, 58% dos entrevistados destacaram a ampliação da transparência como consequência da adoção do modelo contábil, auxiliando no esclarecimento na relação com investidores.

O membro do IBGC, Mário Probst explica que o detalhamento possibilitado pelo IFRS vai ao encontro das boas práticas de governança, já que envolve todos os departamentos da empresa na prestação das informações contábeis. “Antes, a contabilidade era um departamento isolado, e hoje as diversas áreas operacionais precisam se preocupar com os critérios”, afirma. “O IFRS transferiu para a administração a responsabilidade de escolher as práticas contábeis adequadas, e só isso já cobra mais transparência no que eles vão falar”, reforça.

O sócio-fundador da consultoria contábil Coldwell, Ricardo Gimenez, lembra que o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), da Receita Federal, também está trazendo maior transparência às companhias privadas, mas não descarta o papel do IFRS. “Empresas, querendo ou não, estão abertas aos olhos do governo, tendo que implantar práticas mais claras, e o novo regulamento do IFRS auxilia nisso”, argumenta.

O diretor do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Luis Fernando Moran de Oliveira, sintetiza que todos esses processos resultam em vantagens para as empresas, que atuam mais bem informadas sobre si mesmas e reduzindo os riscos de suas operações. “Quem está mais preocupado são empresas de capital aberto, e com a governança corporativa, elas conseguem ser melhor apreciadas no mercado; até em questão de prelos, a valorização que elas recebem é maior”, observa.

 

Mayara Bacelar

 

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=69106

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