Prezados, segue matéria que contou com minha colaboração:

Por Verônica Goyzueta

Imagine um piloto que faz um plano de voo prestando atenção apenas na paisagem. Ele sabe que, se não olhar para o painel de controle pode colocar em risco a sua vida e a dos seus passageiros. É assim também com os empresários: se só olharem para o movimento, mas não para a contabilidade, podem pôr em risco o seu negócio e o emprego da sua equipe. Quem faz esta analogia é Diego Germán Báez, sócio- executivo da Heartman House, consultoria especializada em planejamento estratégico e em reestruturações, que tem ajudado os seus clientes a entender a contabilidade como um benefício na gestão, e não como um problema.Báez é um dos vários agentes do mercado que vêm percebendo uma evolução do trabalho do contador no Brasil, que deixou de ser apenas um informante fiscal do governo e tem se tornado, cada vez mais, uma peça importante na gestão empresarial.  "A contabilidade sempre foi estática, mas de uns tempos pra cá têm acontecido mudanças do mundo analógico para o digital", explica Márcio Massao Shimomoto, sócio-diretor da King Contabilidade, sobre as novas exigências que a receita tem feito para informatizar os processos contábeis e facilitar a fiscalização. Para Marcelo Lico da Costa, sócio no Brasil da auditoria internacional Crowe Horwarth, o mercado atual exige que o profissional de contabilidade tenha conhecimento em questões tributárias, contabilidade internacional, conceitos de riscos e finanças corporativas, pontos que definem a estratégia de um negócio. "Quem não tiver estes conhecimentos ficará para trás. O contador atual não pode ser um mero conhecedor de práticas contábeis, precisa estar antenado", recomenda.
 
A contabilidade brasileira vem se modernizando nos últimos dez anos e boa parte dos processos de contabilidade e de escrituração, como o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), vem sendo digitalizada. Todas essas mudanças na legislação têm impactado a profissão, valorizando o trabalho do contador e provocando uma corrida às salas de aula. Para Eduardo Flores, professor do curso de Ciências Contábeis da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap),  as novas gerações que estão se formando após 2010  começam a aprender que a contabilidade é muito mais que preenchimento de números e compreendem a extensão da contabilidade para o negócio. "Antes, os alunos eram filhos de contadores e trabalhavam atendendo o governo e o Fisco. Hoje a contabilidade é usada para a tomada de decisão nas empresas", diz Flores, que agora recebe entre seus alunos advogados, administradores e economistas, que buscam a contabilidade como segunda formação. Eles correspondem hoje a mais da metade dos alunos da Fecap. 

Aliás, nos últimos três anos, o professor conta, o número de alunos nas salas da Fecap mais que dobrou, de 200 para 429 alunos. É o caso também da Faculdade Santa Marcelina. "Houve um aumento de procura no nosso curso porque há uma maior valorização da profissão de contador no mercado", diz Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis. A procura por vagas nas universidades se reflete em um aumento de profissionais na área nos últimos dez anos. 

O aumento da procura de cursos especializados e as inovações nos currículos universitários, no entanto, vão levar um tempo para serem sentidas de fato no ambiente empresarial, que ainda não tem as suas demandas plenamente atendidas. Um relatório do Banco Mundial sobre normas e códigos de contabilidade,  contemplou, entre as suas principais recomendações, o reforço do currículo do ensino de contabilidade em instituições de ensino superior, além de sugerir um programa de educação continuada obrigatório para todos os contadores registrados, e não apenas de auditores, como acontece atualmente. "O diagnóstico é muito importante e não tem nada de exagerado", diz Flores sobre o relatório.  

Outro dos problemas citados é que as universidades que estão antenadas com esses novos padrões estão concentradas especialmente no eixo São Paulo-Rio de Janeiro.  "O problema é capacitar o número de profissionais do mercado. Em função das exigências do governo, o tempo acaba sendo bastante restrito", diz o coordenador da Santa Marcelina.

A falta de escolas especializadas e atualizadas para atender às novas exigências da legislação, especialmente a transição do registro manual para o digital, tem se tornado uma oportunidade para empresas como a Universidade Wolters Kluwer Prosoft, especializada em educação a distância, que tem oferecido e dado treinamentos em todo o País. "Atendemos contadores no Brasil inteiro e em regiões remotas. A legislação federal é comum a todos e temos  treinamentos específicos para legislações estaduais. Estamos em todas as capitais do Norte, Nordeste e do Centro-Oeste", diz Mauricio Martos, diretor de serviços dessa universidade. Ao todo, a Wolters Kluwer Prosoft, atende 30 mil clientes, a maioria empresas, e tem mais de cem mil usuários. Com essas ferramentas, as empresas podem acompanhar o aproveitamento dos seus colaboradores nos treinamentos, por exemplo. 

Há também no mercado cursos de atualização para quem já é formado. A BlueTax, de São Paulo Minas, oferece cursos de um a três dias de duração, que custam entre R$ 500 e R$ 2.000. 
Segundo José Adriano Pinto, coordenador científico da BlueTax, há demanda para esses cursos desde 2006, mas a procura ainda é menor do que eles avaliam da demanda real.  "O contador trabalha com calendário de entrega, não de forma preventiva", diz.

http://www.dci.com.br/especial/mudancas-na-legislacao-fazem-crescer-demanda-por-formacao-id393490.html

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