A Contabilidade vive um momento ímpar, com uma série de mudanças, entre elas o processo de convergência das Normas Brasileiras
de Contabilidade aos padrões internacionais. O Contabilista e professor da USP
(Universidade de São Paulo), Eliseu Martins, um dos maiores especialistas em
normas contábeis do País, falou com exclusividade ao CRC SP Online sobre
os principais aspectos que envolvem as mudanças decorrentes das normas.
O Brasil é o terceiro país a assinar o Memorando de Entendimentos sobre a Contabilidade Mundial. O que isso representa para a
Contabilidade brasileira?
Significa que o Brasil está em um nível de
visibilidade ímpar no que diz respeito à Contabilidade no mundo e está também na
linha de frente dos países olhados com muito carinho pelo IASB
(Internacional Accounting Standards Board – Comitê de Normas
Internacionais de Contabilidade), responsável por emitir as Normas
Internacionais de Contabilidade.
Este é um ano decisivo para a adequação das Normas Internacionais de Contabilidade. Quantas normas já foram aprovadas e quantas
ainda faltam?
Todas as normas necessárias à convergência já foram
emitidas e aprovadas pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) e pela CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). Ficaram apenas duas sem aprovação: uma
relativa à hiperinflação, uma vez que não é o caso do Brasil de hoje e nossa
expertise na matéria é muito superior à do IASB, e a outra relativa à
exploração e à avaliação de minérios, porque não é de aplicação obrigatória pelo
próprio IASB e está incompleta com relação às demais fases relativas ao
assunto minérios. Iremos emiti-las quando estiverem completas.
O Brasil conseguirá cumprir os prazos?
Os prazos para o Brasil são os que nós mesmos nos fixamos, não há nenhuma imposição do
exterior. O que nos propusemos foi cumprido. Agora é questão de cada empresa
efetuar sua implementação, que deverá estar completa ao findar-se o ano corrente
de 2010. Não tenho dúvidas de que a implantação também será feita nos prazos
acordados, mesmo que com sacrifícios.
Com essas normas, o que muda para a Contabilidade das grandes, médias e pequenas empresas?
Na verdade teremos situações muito
diferentes e não depende do tamanho das empresas, e sim das suas atividades.
Ocorre que, desde a Lei das S.A., Lei n° 6.404, de 1976, estamos caminhando em
direção às normas internacionalmente utilizadas. De 1990 aos tempos atuais,
principalmente, a CVM e o CFC passaram a emitir normas em direção às do
IASB, apenas limitadas ao que a lei permitia (e as mudanças ocorreram
somente no final de 2007 e durante 2008). Assim, nossas diferenças com as normas
internacionais estão entre as menores do mundo (com exceção, basicamente, dos
Estados Unidos, do Reino Unido e alguns outros países de influência
anglo-saxônica, como a Austrália), porque já vínhamos nos preparando,
diferentemente de alguns países muito mais adiantados, que sofreram com a
mudança muito mais do que o Brasil. Com isso, para muitas empresas nada mudará,
porque suas atividades estão abrangidas por normas que estavam em vigor, como o
caso das empresas comerciais e industriais comuns que não tenham significativas
operações de leasing, derivativos, hedge, entre outras. Já as
empresas concessionárias de serviços públicos e provavelmente as de atividade
imobiliária e as que exploram ativos biológicos (celulose e papel,
cana-de-açúcar, café, soja, gado etc.), por exemplo, poderão vir a sofrer
enormes mudanças. Tudo está muito mais em função do tipo de operações e
atividades da empresa do que necessariamente do seu tamanho.
Os Contabilistas estão preparados para essas mudanças?
Nem todos estão preparados, mas os que não se apressarem
estarão fora do mercado de trabalho mais valorizado. Haverá correrias,
sacrifícios, mas sabemos que é assim que avançamos, com pressão e capacidade de
aprender.
http://www.deleon.com.br/crcsp/2010/059/05_opiniao_a.htm
Comentários