Antônio Lopes de Sá

Jamais alimentei dúvida sobre a influência perniciosa que tiveram informações contábeis fantasiosas inspiradas em “normas” (às quais se atribuiu a denominação de “internacionais”) em relação a crise monumental que abalou o mundo desde 2008.

Há mais de trinta anos editei artigos e livros opinando sobre o que colhi em meus estudos quando o Senado dos Unidos publicou pela imprensa oficial daquela Nação a acusação do conluio pernicioso para o mau uso da Contabilidade, esta manipulada por grupos econômicos, entidades de classe contábil e auditores transnacionais.

A falta de credibilidade que disso derivou, todavia, não se corrigiu no tempo.

As medidas paliativas adotadas foram incompetentes para deter as defraudações.

Tão incapazes que apesar da alardeada lei denominada Sarbane Oxley, da dita “governança corporativa” e quejandos nada disso impediu a estrondosa crise que eclodiu, com efeitos que ainda perduram, vitimando nações inteiras, lesando contribuintes e investidores.

O tema agora volta à tona e noticiários dirigem a bateria contra os auditores, acusando esses profissionais de omissão em denunciar o que escondiam os demonstrativos contábeis.

Acabo de ler o seguinte:

“Os bancos, fundos hedge e agências de avaliação de crédito foram apontados como alguns dos responsáveis pelo desencadeamento da crise financeira, mas Barnier agora está "convencido" de que é a vez das firmas de auditoria serem colocadas sob o microscópio das autoridades reguladoras europeias. "Essa convicção é reforçada pelas dúvidas levantadas recentemente no contexto da auditoria do banco americano Lehman Brothers", disse.”

Com tal afirmativa e sob o título “Crise financeira: Voltam à tona questões sobre o potencial conflito de interesse entre firmas de auditoria e empresas que as contratam”, da lavra de Rachel Sanderson, do Financial Times, de Londres, em 26/05/2010 tal matéria foi difundida pelo “Valor Econômico”.

E prossegue:

“Até a publicação do relatório do promotor público americano Anton Valukas sobre o colapso do Lehman, alguns auditores vinham dizendo que comparado às turbulências pós-Enron, os dois últimos anos foram uma "crise boa".

E completa:

“Mas desde a publicação do relatório de Valukas em março, que criticou os auditores do Lehman Brothers, a Ernst & Young, as atenções reguladoras e políticas sobre o setor de auditoria no Reino Unido e outros países se intensificaram. Os auditores agora enfrentam investigações da Comissão Européia, do Comitê de Informações Financeiras britânico e da nova coalizão entre os conservadores e os liberais no Reino Unido. Uma investigação desencadeada por críticas do comitê legislativo do Tesouro do governo britânico anterior também está chegando ao fim.”

Tal matéria foi reproduzida em noticiários da Internet via FENACON: http://www.fenacon.org.br/pressclipping/noticiaexterna/ver_noticia_externa.php?xid=3617, -
postado pelo competente e ilustre mestre Alexandre Alcantara no sitio Análise de Balanço
http://analisedebalanco.blogspot.com/2010/06/auditores-entram-na-mira-das.html.

Sem descer a comentários sobre o conceito de “crise boa”, para mim expressão que traduz no caso um portento de ilogicidade, para não admitir coisa pior no campo da ética sobre as “bondades”, entendo que a questão possui raízes profundas.

Tal como a imprensa internacional difundiu o comando do movimento normativo, planejamento, direção e financiamento está em mãos de grupos comprometidos com as auditorias, e, detalhes sobre tais fatos descrevem meu livro NORMAS INTERNACIONAIS E FRAUDES EM CONTABILIDADE.

Como se não bastassem todos os desastres sociais, econômicos e éticos que envolvem a matéria pretende-se ainda impor que tudo se aplique até as empresas que não possuem ações captadas no mercado financeiro, ou seja, os menores empreendimentos (fato quase incrível, mas, com evidente pressão real).

Na nota divulgada e já referida ainda pioram a situação os textos seguintes:

“Essa questão foi levantada pelo relatório do examinador do Lehman Brothers, que revelou o agora infame truque contábil chamado Repo 105, que permitiu ao Lehman maquiar suas contas. A E&Y, que ganhou US$ 31 milhões do Lehman, nega qualquer irregularidade e parece ter seguido as normas contábeis dos Estados Unidos.

Com honorários desse porte disponíveis, políticos e autoridades reguladoras estão avaliando se esses auditores são tentados a partir para práticas que atendem as regras, mas podem apresentar um quadro enganoso sobre a saúde financeira de um cliente.

A falha da profissão em mostrar problemas no setor bancário vêm levantando dúvidas sobre qual é a real utilidade das auditorias, e se todo o parecer de auditoria não exigiria uma reorganização para ser mais prospectivo.”

O difundido permite inferir que o movimento que no Brasil se tem propagado como de “progresso contábil” seja mais para “domínio de mercado” ou “comercialização de serviços por grandes grupos”, que mesmo de benefício de maiorias.

O relatório do Senado dos Estados Unidos há mais de 30 anos já isso insinuava, como o do governo americano atual (de Anton Valukas) abertamente acusa a ausência de fidelidade na auditoria e o jogo de interesses.

A julgar-se pelo difundido pela imprensa a questão se assemelha mais como “crise moral” (de alguns profissionais, algumas entidades de classe, alguns grupos financeiros) que “crise profissional”...

Como não se pode acusar a Medicina pelo aborto que alguns profissionais realizam, nem acusar a Física pela “bomba H”, sequer o Direito por leis incompetentes, também não é justo imputar-se à Contabilidade as fraudes nas informações.

A culpa é dos que fazem as maquiagens deformando, omitindo e dissimulando, como dos que produzem normas dissociadas da ciência, sem respeito ético e as utilizam para justificar aplicações que atendem a fins indignos, como nas outras ciências também se utilizam conhecimentos para efeitos contrários aos humanamente desejáveis.

Enviado pelo autor

De: ANTONIO LOPES DE SA
Enviada em: 7 de junho de 2010 12:26
Para: Jose Adriano
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