Impulsionada por fábricas com raízes na serra gaúcha, cidade cria polo automotivo voltado para veículos pesados

Em 5 anos, cidade abre 10 mil vagas no setor metalmecânico, a principal atividade
da economia local

  Juan Barbosa/Folhapress  
Fábrica da Randon, uma dasmaiores da região, que produz carrocerias, reboques e autopeças; empresa exporta o equivalente a US$ 300milhões/ano
Fábrica da Randon, uma dasmaiores da região, que produz carrocerias, reboques e autopeças; empresa exporta o equivalente a US$ 300milhões/ano

 

FELIPE BÄCHTOLD
ENVIADO ESPECIAL A CAXIAS DO SUL (RS)
 

A serra gaúcha viu sua principal cidade triplicar o PIB na última década, de R$ 3,7 bilhões para R$ 12,5 bilhões, e despontar como celeiro de multinacionais.

Caxias do Sul, a 125 km de Porto Alegre, criou seu próprio polo automotivo, um equivalente gaúcho do ABC paulista para veículo pesado, como caminhão e ônibus.

O boom agrícola em outras partes do Brasil nos anos 2000 ajudou a impulsionar a demanda por seus produtos e a puxar o crescimento local.

Com uma economia um pouco menor do que a de Santo André (SP), o município gaúcho tem um diferencial: ao contrário de cidades que prosperaram ao atrair investimentos, Caxias se desenvolveu graças às empresas que surgiram em seu território.

Nascida na cidade, a Randon -de carrocerias, reboques e autopeças- é uma das maiores companhias do Sul e hoje está também na Ásia, na Europa e na África. Com parte dos pavilhões municipais inaugurados na década passada, a empresa exporta US$ 300 milhões ao ano.

Segundo a indústria, a cidade criou 10 mil vagas nos últimos cinco anos somente no setor metalmecânico, o principal da economia local.

Outro retrato do crescimento vem da Neobus, fabricante de ônibus criada há 13 anos. No início, contava com 50 funcionários e tinha produção de 50 veículos ao ano. Hoje fabrica 4.000 ônibus e emprega 2.200 pessoas.

A indústria local diz consumir 3,5% do aço brasileiro e já atrai investidores estrangeiros, como a americana Navistar, associada à Neobus.

MÃO DE OBRA

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Caxias do Sul, Valmir Susin, diz que a prioridade dada ao transporte rodoviário no país contribuiu para o avanço do parque industrial local.

"Temos pouco trem, pouco navio, o nosso transporte está em cima das estradas. É preciso fabricar carretas, são tantas carregando soja pelo país. Muitas indústrias vivem do meio rural", diz.

Uma especialidade de Caxias é fabricar carrocerias para caminhões de transporte de grãos. A Agrale, também da serra gaúcha, produz tratores e implementos agrícolas. Cerca de 10% da produção da cidade é exportada.

Apesar da ameaça de crise no setor em razão da conjuntura internacional, Caxias tem uma vantagem: com empresas locais, não há chance de migração de fábricas para outras partes do país.

QUALIFICAÇÃO

"As empresas são de gente que tem origem ali, estão enraizadas", diz Áurea Breitbach, da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, autora de tese de doutorado sobre a economia do município gaúcho.

A Marcopolo, por exemplo, fabricante de ônibus, anunciou em junho um investimentos de R$ 100 milhões em Caxias até o fim de 2013.

Para Breitbach, um dos fatores para o desenvolvimento local é a boa qualificação da mão de obra. "O analfabetismo é muito baixo. São alavancas para o crescimento."

 

 

Crescimento aumenta problemas sociais

DO ENVIADO A CAXIAS DO SUL (RS)
 

O crescimento econômico teve um efeito colateral que preocupa a população de Caxias. A cidade atraiu algumas dezenas de milhares de habitantes na última década, inchou e viu aumentar os problemas sociais.

Chamariz para trabalhadores de outras partes do Estado, o município gaúcho passou de 360 mil moradores em 2000 para 441 mil atualmente. O principal atrativo é a perspectiva de bons ganhos na indústria -o salário-base da metalurgia fica em torno de R$ 2.000, superior aos pagos na Grande São Paulo.

No período de inchaço urbano, o total de homicídios ao ano, que era de 56 em 2002, passou para 96 em 2011. A quantidade de roubos subiu 31% nesses nove anos.

A prefeitura cogitou até criar um cadastro de migrantes para "acompanhamento", mas desistiu da ideia.

O secretário da Segurança e Proteção Social de Caxias, Roberto Louzada, diz que a cidade hoje "cresce para todos os lados" e enfrenta agravamento de mazelas, como o tráfico de drogas. "O investimento industrial traz pessoas de fora e depois temos de arcar com problemas, como educação. As pessoas vêm, mas caem no desemprego e ficam à margem da lei."

Louzada diz que o município trabalha com a "prevenção" ao problema e vem investindo em áreas como policiamento comunitário.

 

 

Efeitos da crise esfriam indústria local neste ano

DO ENVIADO A CAXIAS DO SUL (RS)
 

O primeiro semestre de 2012 contrastou com o bom momento da economia de Caxias do Sul. A indústria metalmecânica recuou nos primeiros meses do ano e não deve crescer até dezembro.

Houve demissões e casos de concessão de férias coletivas a empregados por causa da fraca demanda. A crise econômica internacional e o baixo crescimento do país são apontados como as causas.

O empresário Getúlio Fonseca, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica e Mecânica, diz que há o temor de "perder a gordura acumulada" no período de expansão dos anos anteriores.

"Poderíamos estar bem na exportação, mas o mercado não está comprando. A Argentina está fechada, a Europa, em crise e, como consequência, a Ásia também."

Em maio, a economia municipal cresceu 4,6% no total, mas a indústria registrou queda de 1,3% na comparação com o mesmo mês de 2011.

Apesar da importância do polo automotivo, a cidade diversifica atividades e também se destaca na indústria de plástico e na agropecuária.

"Nos anos 1980 e nos 1990, a região não sofreu [com as crises]. Criaram-se novos ramos", afirma a pesquisadora Áurea Breitbach.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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