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A entrevista de Lina Vieira
Leiam abaixo, na íntegra, a entrevista que está dando o que falar concedida por Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, à Folha de S.Paulo:
FOLHA - A Folha obteve a informação de que a sra. foi chamada pela ministra Dilma ao Planalto e que ela lhe pediu para encerrar logo uma fiscalização nas empresas da família Sarney. Como foi a conversa?
LINA VIEIRA - O encontro ocorreu, mas não posso dar detalhes.
FOLHA - O próprio Fernando Sarney, em carta enviada à Folha e publicada no dia 26, confirmou a investigação da Receita nas empresas da família.
LINA - Tenho que respeitar o sigilo fiscal previsto no CTN [Código Tributário Nacional].
FOLHA - Vamos nos ater apenas ao encontro com a ministra. Como foi a conversa?
LINA - Na verdade, a chefe de gabinete dela, a Erenice, foi até a Receita e disse que a ministra queria conversar comigo. Eu perguntei do que se tratava, e Erenice disse que não sabia. Foi uma conversa muito rápida, não durou dez minutos. Falamos sobre algumas amenidades e, então, ela me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho de Sarney. Eu disse que não sabia da auditoria e que ia verificar.
FOLHA - Mas o que sra. respondeu?
LINA - Não fiz comentário, nem se eu ia atender, se não ia atender. Fui embora e não dei retorno.
FOLHA - Qual o recado que a sra. entendeu ali?
LINA - Para encerrar [a fiscalização]. Estava no processo de eleição do Senado, acho que não queriam problema com Sarney.
FOLHA - A sra. se lembra como a ministra estava vestida?
LINA - Ela estava com muita pressa, parece que tinha outra audiência em seguida. Estava com um xale, por cima de uma blusa, de óculos. Não estava, assim, de terninho.
FOLHA - Quando foi o encontro com Dilma?
LINA - No final de 2008. Me lembro que foi após a determinação judicial para reforçar a fiscalização. Pedi para minha secretária procurar nas minhas agendas, mas minhas coisas estão empacotadas.
FOLHA - A sra. teve uma conversa dura com Aloizio Mercadante (PT-SP) e com outras pessoas do governo sobre o caso da Petrobras. Como foram essas discussões?
LINA VIEIRA - No final de abril, fomos a uma reunião no Senado. Os senadores queriam entender por que a arrecadação vinha caindo. Mostramos que se devia à queda industrial e a algo que não acontecia, que eram muitas compensações [tributárias]. O senador Tasso [Jereissati, PSDB-CE] perguntou por que o repasse da Cide para os Estados estava tão pequeno. Um assessor meu disse: "Houve compensações [na Cide] de R$ 4 bi e não sei quanto". Tasso perguntou: "De quem, foi a Petrobras?" Eu disse que não podíamos falar o nome do contribuinte. Dias depois, o presidente da Petrobras foi lá e abriu, falou. Nós não falamos nada.
FOLHA - Mas como foi a conversa com Mercadante?
LINA - No final de maio, fomos ao Senado tratar de questões sobre portos secos. Foi no gabinete do Zambiasi [Sérgio, PTB-RS], lá estava Ideli [Salvatti, PT-SC]. Quando terminou, fomos a Mercadante, pois ele também está envolvido nesse assunto. Foi quando ele disse que eu tinha cometido um crime.
FOLHA - Onde foi a conversa?
LINA - Foi no gabinete dele. Em momento nenhum da minha boca saiu essa palavra [Petrobras].
FOLHA - A sra. tratou do tema da Petrobras com Mantega?
LINA - Eu fui até ele e disse que não aceitava a forma como Mercadante havia falado comigo. Disse que a responsabilidade pela informação ter vindo a público não era nossa.
http://www.nominuto.com/blog/brasilia-urgente/a-entrevista-de-lina-...
Ministra também nega encontro com Lina Maria Vieira para tratar de caso dos Sarney
Senador afirma não crer que Dilma tenha intercedido para apressar investigação contra sua família e diz que nunca pediu isso à ministra
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A QUITO
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A NATAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de "fantasia" a declaração da ex-chefe da Receita Lina Maria Vieira de que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pediu que a investigação feita pelo órgão nas empresas da família Sarney fosse concluída rapidamente.
Dilma, em visita a Natal ontem, negou ter se encontrado a sós com Lina e disse que nunca tratou desse assunto com ela.
Em reportagem publicada anteontem pela Folha, Lina afirmou que foi chamada para um encontro a sós com Dilma no final do ano passado. A ex-secretária diz ter interpretado o pedido como um recado para encerrar a investigação.
Em setembro de 2008, a Receita recebeu um despacho do juiz Ney Bello Filho (1ª Vara Federal do Maranhão) determinando a ampliação de auditoria que o fisco conduzia havia um ano nas empresas dos Sarney. No ofício, o juiz se dizia insatisfeito com o resultado até ali, conduzido pela administração do antecessor de Lina, o ex-secretário Jorge Rachid.
Em outubro, já na gestão de Lina, a Receita passou a montar um grupo especial, com auditores de fora do Maranhão, para reforçar fiscalização no clã Sarney. Segundo a ex-secretária da Receita, semanas depois ela foi chamada por Dilma.
"Eu não fiz esse pedido", afirmou a ministra Dilma, acrescentando: "Olha, eu encontrei com a secretária da Receita várias vezes, com outras pessoas junto, em grandes reuniões. Essa reunião privada a que ela se refere... eu não tive com ela".
Dilma disse que não tinha como "classificar" a declaração de Lina. "Não vou ficar fazendo interpretação subjetiva dela" e negou ter tido ingerência sobre a demissão da ex-secretária.
Já o presidente Lula, em entrevista em Quito, no Equador, depois de participar de reunião de cúpula da Unasul (União das Nações Sul Americanas), disse que "quem construiu essa fantasia, essa história, em algum momento vai ter de dizer que foi um ledo engano".
Lembrado que foi a própria Lina quem contou o episódio numa entrevista publicada, Lula reagiu: "Minha filha, eu não sei se a Lina falou ou não, você é que está me falando. De domingo, eu não leio jornal. Na segunda-feira, eu ouço informações. Eu só digo uma coisa: duvido que a Dilma tenha conversado com a Lina sobre qualquer assunto desse. Duvido".
Lula ainda ironizou: "Pode escrever uma matéria escrito assim embaixo: "Erramos'". Referia-se à seção da Folha, com correções sobre informações divulgadas pelo jornal.
Ele também disse que não conversou com a ministra, que é pré-candidata do PT à sua sucessão em 2010, e insinuou que nem pretende fazê-lo.
"Eu não conversei com a Dilma nem hoje [ontem], nem ontem [anteontem], nem anteontem [sábado], nem "trasantontem" [sexta]", disse. Insistiu, porém, que não acredita na declaração de Lina, que foi demitida da Receita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ao ser questionado se achava possível que Dilma tivesse procurado a secretária para pedir-lhe que encerasse a investigação, respondeu: "Acho que não". Foi enfático ao responder que ele não pediu nada a ministra nesse sentido. "Nunca, nunca."
Conselho de Ética
Lula também negou ter interesse num desfecho rápido dos processos contra Sarney no conselho. "O Senado tem maioridade e tem instrumentos para fazer as investigações que entender que deva fazer." Apesar de já ter feito uma série de manifestações sobre a crise na Casa, ontem disse que "não cabe a um presidente ficar dando palpite nas instâncias de investigação do Senado".
"Ela sabe que falou comigo", reitera Lina
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira reiterou ontem que esteve no gabinete de Dilma Rousseff (Casa Civil) e que a ministra lhe pediu para encerrar logo o processo de investigação nas empresas da família Sarney.
"Ela sabe que eu estive lá e sabe que falou comigo. A Erenice [Guerra, secretária-executiva da Casa Civil] também, porque esteve no meu gabinete para marcar. Não custava nada ela ter dito a verdade. Qual a dificuldade? Na minha biografia não existe mentira."
Ela afirmou que confirmou o encontro à Folha porque foi procurada pela reportagem. "Não preciso disso, estou passando um momento muito difícil por causa da entrevista. Não tenho costas quentes, não tenho ninguém para me defender. Não sou candidata a nada, não preciso de palanque."
Lina disse que "Erenice pediu o encontro e que era para ser sigiloso", por isso não foi acompanhada de assessores. "Estive lá, antes a chefe de gabinete dela foi ao meu gabinete, agendou isso para ser uma coisa informal, que não constasse nem da minha agenda nem da dela. Eu cheguei pela garagem, entrei sem identificação, conversei com ela e voltei."
Lina está de mudança para o Rio Grande do Norte. Foi demitida em 9 de julho pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). (ANDREZA MATAIS e LEONARDO SOUZA)
Fonte: Folha de S.Paulo
http://201.76.44.125/pressclipping/noticiaexterna/ver_noticia_exter...