A nova cara da contabilidade

Por Beto Carlomagno

As mudanças no formato das profissões são comuns. Todas precisam se adaptar e evoluir com o passar dos anos, principalmente porque nos dias de hoje tudo se torna obsoleto muito rapidamente. A necessidade de reciclagem supera qualquer tradicionalismo exacerbado. A essência pode não sofrer grandes transformações, mas do restante, nada continua como antes. É o que ocorre com a contabilidade, que ao longo de seus milhares de anos de existência viu seu formato se modificar intensamente.

Cada vez mais complexa, a profissão tem exigido de seus profissionais estudo aprofundado e renovação constante para compreender as mudanças. Além disso, o papel do contador, que antes era voltado apenas para a prestação de contas e apuração de impostos, atualmente caminha para se tornar uma ferramenta de gestão, dizem os envolvidos.

“Estamos num processo de transição. Com o avanço da tecnologia, o que garante ao Fisco mais controle das empresas e que tem tornado cada vez mais difícil e muitas vezes improdutivo sonegar, o nosso trabalho, que na essência sempre foi o de registrar e controlar patrimônios e apurar resultados, está progredindo para ser uma efetiva ferramenta de gestão. Desta forma, deixaremos de ser o mal necessário, a despesa, e passaremos a ser um investimento, uma excelente ferramenta de gestão”.

Esta é a opinião de Antônio Carlos Valêncio Barbosa, do escritório São Judas e diretor da regional de Rio Preto do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP). Barbosa está no ramo há 47 anos e presenciou diversas alterações na forma de ser contabilista e nas funções desempenhadas pelo profissional.

Barbosa começou a trabalhar como auxiliar contábil ainda na adolescência, depois de fazer um curso básico que corresponde atualmente ao período que vai da 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e que preparava o aluno para atuar como auxiliar de escritório. Esta experiência fez com que se apaixonasse pela profissão. “Na sequência, concluí o curso técnico em contabilidade, posteriormente me tornei bacharel em ciências contábeis e depois bacharel em ciências econômicas”, disse.

Cresce número de mulheres no setor

A área contábil sempre foi dominada pelo sexo masculino, mas, como em grande parte das profissões, o número de mulheres tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. É o que afirma a contabilista Flávia Augusto, que atua no ramo há 14 anos. “Costumo dizer que os números não mentem. As pesquisas mostram que nossa profissão, atualmente, tem a maioria de homens, mas o número de mulheres que estão procurando a profissão está crescendo a cada ano”.

Flávia cresceu cercada pela profissão. Seu pai era um empresário contábil e sempre que ela tinha oportunidade ia conhecer como era seu trabalho. “Isso me encantou e hoje, juntamente com meus irmãos, dou sequência ao trabalho iniciado por ele”, conta. Apesar de não ver diferença e nem vantagem em ser homem ou mulher para o trabalho de contabilista, Flávia afirma que as mulheres estão se destacando cada vez mais na área e conquistando seu espaço, mostrando, acima de tudo, competência para contribuir com os parceiros de negócios.

“Vale lembrar que as mulheres, ao longo da história, vêm mostrando seu valor em todas as profissões, mostrando que são capazes de trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e, principalmente, terem uma vida social”, disse.

Avanços tecnológicos levam a mudança

A parte operacional apresentou mudança considerável, evidentemente, com os avanços tecnológicos que impactaram na profissão, como afirma o presidente do Sescon-SP, Sérgio Approbato Machado Júnior. “Há algumas décadas, a contabilidade era feita de forma mais artesanal, o profissional trabalhava com mais tempo e menos pressão. Já a sociedade enxergava o empresário contábil e o contabilista como darfistas, como pagadores de impostos, não vislumbrava a atividade como estratégica, mas sim burocrática. Hoje, a inteligência fiscal brasileira revolucionou o relacionamento Fisco-contribuinte e este processo está intrinsecamente ligado às novas tecnologias”, conta.

Júnior afirma que o entendimento de tecnologia se tornou uma regra na profissão, para um melhor desempenho por parte do contabilista. “Hoje, o profissional contábil tem necessariamente que entender de tecnologia para atuar, pois a contabilidade está diretamente ligada à tecnologia, com as obrigações eletrônicas, notas fiscais eletrônicas, certificação digital e tantas outras ferramentas”.

O trabalho mais detalhado, a qualidade e a consistência das informações exigidas pelos fiscos são em virtude das possibilidades de cruzamentos de dados dos contribuintes, por isso, de acordo com Júnior, a categoria tem tido inúmeros desafios. “Mas, em consequência destes desafios, a categoria tem sido mais valorizada”, afirmou.

No entanto, para Barbosa, o que mais causou modificações foi a maneira com que o governo tem transferido suas atribuições para a atividade do profissional de contabilidade. “Hoje, nosso trabalho está voltado quase que totalmente para a apuração de impostos e prestação de informação ao Fisco, no cumprimento de inúmeras obrigações acessórias.

O nosso cliente nos paga para trabalharmos para o Fisco”, afirma.

O presidente do sindicato acredita que o perfil do profissional da contabilidade precisa ser outro, impulsionado pelas mudanças tecnológicas, legislativas, fiscais e até mesmo sociais, que proporcionaram uma visão diferenciada do contabilista e da ciência contábil por parte da sociedade.

Atividade plural

“A área antes era muito atrelada à burocracia, ao simples ato de recolhimento de tributos e hoje tem sido vista como uma grande ferramenta gerencial e de tomada de decisões. Hoje, o profissional da área precisa ser plural, ter conhecimento em diversas áreas como as legislativas, tributárias e tecnológicas. Além disso, deve ter a consciência de que a educação continuada é vital para o seu sucesso”, conta Júnior.

Para o contabilista Renato Francisco Reynaldo, do escritório São Francisco Contabilidade, que está no mercado há 20 anos, esta pluralidade é o ponto principal para se atuar como um bom contabilista atualmente e o trabalho em si tem se tornado ainda mais globalizado. “No passado, o contador desenvolvia seu papel restritamente contábil, hoje tem que se atualizar e dar uma prestação de serviço de qualidade aos nossos clientes”.

Empresas investem em qualidade

Para ajudar na preparação e atualização das empresas contábeis, o Sescon-SP, por meio de sua Universidade Corporativa (Unisescon), juntamente com a Associação das Empresas de Serviços Contábeis (Aescon-SP), lançou em 2005 o Programa de Qualidade das Empresas Contábeis (PQEC).

O programa é comprometido com a ética e a qualidade dos serviços prestados pelos seus associados. Conectado com diversas mudanças do setor, ele oferece às empresas participantes um processo de melhoria contínua a fim de integrá-las ao mercado, valorizar e fortalecer ainda mais o segmento. O Programa concede às empresas contábeis a certificação ISO 9007:2008, um reconhecimento de qualidade de âmbito internacional que foi viabilizado por meio de parceria firmada entre o Sescon-SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Em Rio Preto, seis empresas contábeis participam do programa: São Judas Contabilidade, Contep Contabilidade, Velani Contabilidade, Augusto Contabilidade, São Francisco Contabilidade e Reunidos Contabilidade. Para a contabilista Flávia Augusto, a participação no programa ajuda muito na atualização que a profissão exige.

“O ser humano se adapta a mudanças facilmente, na nossa profissão não somos diferentes. O governo, a todo o momento, cria uma lei nova, um decreto novo e temos que atender a tudo, o que, sem atualização profissional, é impossível. Portanto devemos ficar atentos às alterações, participar de palestras, cursos, seminários, congressos, etc. A troca de experiências nos ajuda a assimilar essas modificações, por isso, participar de um Programa de

Qualidade como PQEC-Sescon é importante. Ele nos auxilia a nos mantermos atualizados e, principalmente, conseguirmos transmitir este conhecimento aos nossos colaboradores e dar uma prestação de serviço de qualidade aos nossos clientes”.

Como escolher um contabilista?

Assim como escolher qualquer profissional, a busca por um contabilista gera dúvidas e incertezas. No entanto, a qualidade é essencial e deve superar a busca pelo mais barato. “Hoje, é fundamental que o empreendedor busque qualidade no momento da contratação, pois, a busca pelo menor preço pode ser uma grande cilada. Dessa forma, a indicação, por exemplo, é uma boa alternativa”, afirma o presidente do Sescon-SP.

O segundo passo, segundo Júnior, é a realização de um contrato de prestação de serviços que preserve o cliente e o contabilista, elencando os direitos e deveres de ambas as partes. “Antes da efetivação do contrato, busque informações sobre a empresa ou do profissional da área contábil nos conselhos regionais de contabilidade.

O Sescon-SP possui uma ferramenta de busca por empresas do setor, por localidade, em seu portal http://www.sescon.org.br. É um bom ponto de partida”, alerta. Para o diretor regional do sindicato, a busca é como se estivesse procurando por um médico. “Deve usar o mesmo critério que utiliza quanto procura um médico para cuidar de sua saúde. A comparação é verdadeira, o contabilista ou a empresa contábil escolhida irá cuidar da saúde econômica e financeira da empresa ou da pessoa”, afirma Barbosa.

Fonte: Site Diário Web-27/01/2013

http://mauronegruni.com.br/2013/01/30/a-nova-cara-da-contabilidade/

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