Uma ciência chamada contabilidade

Sescon-SP e Entidades Congraçadas se unem contra o tratamento pejorativo dado ao contabilista pela mídia e parte da sociedade

ed_258_pg19b.jpgDe acordo com estudo da IOB, existem mais de cinco mil normas contábeis, sendo que, em média, ocorrem duas alterações por hora. Fora isso, 88 tributos, mais de 100 tipos de documentos fiscais e mais de 170 obrigações acessórias.

Segundo o BID (Banco Internacional de Desenvolvimento), as empresas latinoamericanas dedicam, em média, 300 horas por ano para a elaboração das obrigações tributárias, contra 170 horas dos Estados Unidos e Europa Ocidental. O processo mais oneroso é o brasileiro, que demanda 2.600 horas por ano para administrar questões fiscais/tributárias.

Soma-se à fatura das atividades contáveis a entrada definitiva do setor na era digital que, com o Sped, Nota Fiscal Eletrônica, entre outros processos que aumentaram ainda mais a eficiência da Inteligência Fiscal e, consequentemente, resultaram a necessidade de atenção e responsabilidade redobrada dos profissionais contábeis.

Mas, será que, apesar desse volume crescente das atividades e, principalmente, das responsabilidades contábeis, a sociedade tem noção exata da importância e do rigor imposto ao profissional pelos órgãos de fiscalização.

ed_258_pg19c.jpgEmbora a visão que se tem do contabilista tenha melhorado, boa parte da sociedade ainda conserva certa miopia a respeito do contabilista, e o vê como profissional que só cuida de impostos.

“Vale lembrar que em outros lugares do mundo, em especial nos Estados Unidos e no Reino Unido, o profissional de contabilidade é visto com destacado conceito e respeito, além de muito bem remunerado.

Esse reconhecimento é sinal da relevância da Contabilidade na sociedade”, diz o professor Henrique Formigoni, coordenador do Curso de Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Mackenzie.

‘Fraude Contábil’: o contador é o vilão?

Porém, apesar da relevância da profissão em outros países, por aqui a imagem do empresário ou do profissional contábil, sobretudo na imprensa, parece relativamente equivocada e muitas vezes é apresentada de forma atrelada a trambiques, desvios de dinheiro ou de caráter, e até mesmo em algumas novelas, filmes e seriados, de forma menos “nobre”.

ed_258_pg19d.jpgSão muitos os casos que mostram essa incoerência e desinformação da sociedade ou de alguns membros, entidades e empresas, quanto às atribuições, responsabilidades e importância da função do contador. Afinal, quantas vezes não vemos veiculada a expressão ‘fraude contábil’, quando a realidade é outra?

“De forma inconsequente, o título de contador vem sendo utilizado para qualquer tipo de atividade, deliberadamente”, lembra o presidente do Sescon-SP, José Maria Chapina Alcazar. E exemplos não faltam.

Recentemente, o cantor e candidato ao senado por São Paulo, Netinho de Paula, ao ter os seus bens questionados, responsabilizou o seu contador pelas falhas. Em outra ocasião, Edson Arantes do Nacimento, o Pelé, também disse a respeito de algo que não havia declarado no Imposto de Renda que a responsabilidade era do contador. Ambos os fatos foram noticiados pelos jornais e por outros meios de comunicação em todo o Brasil.

Outra situação bem explorada pela imprensa mundial foi o caso da WorldCom, na época a segunda maior operadora de chamadas de longa distância nos Estados Unidos.

“A empresa fraudou seus números e maquiou um rombo de aproximadamente US$ 4 bilhões, causando um tremor de terra pelas bolsas de valores em todo o mundo”, lembra o prof Ms. Luciano Caricol Iaralham, coordenador da área de gestão de negócios da UniSant’Anna.

Segundo a imprensa, isso aconteceu por ‘fraude contábil’. Em carta ao então presidente dos Estados Unidos, George Bush, o presidente da WorldCom declarou que “a administração da empresa está tão surpresa quanto ultrajada...?”.

ed_258_pg19e.jpgSeria possível, por acaso, que a manipulação fosse simplesmente invenção do contador, com a conivência dos auditores e total desconhecimento dos administradores?

Um exemplo de fraude empresarial em terras brasileiras, em que a vilã da história também foi a contabilidade reside no escândalo da empresa Daslu. A mídia divulgou que foram presos a empresária e seu ‘contador’.

Depois de um trabalho do CRCSP na apuração do fato, foi comprovado que o envolvido não tinha formação contábil. Ou seja, não poderia ser o responsável pela contabilidade.

O termo ‘Contabilidade do tráfico’ e outros similares também é largamente utilizado em matérias e reportagens em referência a anotações, cadernetas ou papéis de traficantes.

“Mas desde quando o pagamento de propina, acertos de corrupção, féria do dia da venda de drogas ou aquisição de armamentos podem ser considerados parte de uma ciência relevante como a contábil?”, indaga Chapina Alcazar.

Para finalizar a ampla lista de exemplos que denigrem a imagem do contador, um caso em que nem mesmo na ficção a imagem do profissional contábil foi poupada. Na última novela do horário nobre da Rede Globo, ‘Viver a Vida’, um empresário, ao ser questionado pela Receita Federal acerca de um iate de luxo não declarado, disse que foi o contador que omitiu tal informação. No final do capítulo, a personagem ainda declarou: “tive que colocar a culpa no contador”.

José Heleno Mariano, presidente do Sindcont- SP, acredita que tudo isso acontece porque a sociedade não conhece o que é a profissão contábil. “A contabilidade é uma proteção da sociedade, pois pratica a transparência nos negócios, a evidenciação à prova e ao desenvolvimento do empreendimento”, afirma.

“O cliente ou os gestores são os que praticam o ato e imputam ao contabilista a falha técnica, o que de certa forma vem denegrindo a imagem da nossa classe contábil”, ressalta Domingos Orestes Chiomento, presidente do CRC SP.

A opinião é endossada por Chapina Alcazar, que critica as declarações de alguns políticos, treinadores, jogadores de futebol e empresários, que culpam o contabilista por fraudes ou sonegação de impostos e informações. “Os bens são declarados pelo especialista com base nos dados fornecidos pelo contribuinte, que, portanto, tem toda a responsabilidade em casos de omissão”.

“A Contabilidade é uma ciência nobre, regulamentada por lei, que auxilia diariamente o desenvolvimento da maioria dos negócios no País, independente de seu porte, ramo de atividade ou natureza jurídica”, argumenta o líder setorial, frisando que a profissão hoje é abraçada por mais de 410 mil brasileiros.

Conscientização

Da mesma maneira que os médicos respondem ao Conselho Federal de Medicina e os advogados à Ordem dos Advogados do Brasil, também os contadores têm o seu órgão de representatividade, CFC - Conselho Federal de Contabilidade, que regula tanto a profissão quanto as ações dos profissionais e as normas que regem o setor.

Por isso, é vital que a sociedade e, sobretudo,os empresários brasileiros sejam conscientizados acerca da importância da contabilidade. “A sociedade precisa conhecer melhor o que fazemos, qual é o nosso trabalho, que temos fé pública e que temos um rígido Código de Ética. Só assim a visão dela será mais favorável a nós”, afirma Almir da Silva Mota, presidente da Fecontesp.

ed_258_pg21d.jpg“A Contabilidade é uma ciência nobre, regulamentada por lei, que auxilia diariamente o desenvolvimento da maioria dos negócios no País, independente de seu porte, ramo de atividade ou natureza jurídica”, José Maria Chapina Alcazar, presidente do Sescon-SP

José Heleno Mariano, do Sindcont SP, acredita que os empresários têm consciência da utilidade do profissional contábil. “O que eles não sabem, ou não querem compreender, é a forma de auxiliar os contabilistas para que obtenham os melhores resultados em seus empreendimentos, pois muitas informações devem ser disponibilizadas pelos próprios empresários para que os contabilistas possam inferir estudos para a melhor utilização dos relatórios que a contabilidade pode produzir”, explica.

Ser um bom profissional também é vital para dar ao empresário a percepção de toda a importância do setor. Isso significa, como explica Henrique Formigoni, do Mackenzie, estar bem preparado para o exercício da profissão, ter segurança dos seus conhecimentos e, sobretudo, agir com ética.

“No exercício da profissão contábil não podemos escolher fazer o que é mais fácil e sim o que é necessário ser feito”, afirma. Vale lembrar que hoje o próprio Código Civil estabelece faltas culposas e dolosas.

O profissional deve ter em mente que quando as empresas praticam atos dolosos, todos os envolvidos respondem solidariamente pelos atos praticados. Ou seja, nunca o contabilista deve se comprometer eticamente com o seu cliente.

A opinião é endossada pelo presidente do Sindcont-SP, que acredita que os riscos profissionais serão reduzidos pelo trabalho profissional exemplar, com o estrito cumprimento do que é estabelecido pela profissão e pela orientação e convencimento junto aos clientes de que a prática contábil somente trará benefícios aos seus negócios, observando pontos fortes e fracos de seus empreendimentos.

Formigoni lembra ainda que a conscientização da importância do setor está implícita na remuneração dos profissionais de contabilidade. Como exemplo, ele cita os sócios de empresas contábeis que se queixam de que os clientes não pagam o suficiente para que o escritório faça uma escrituração completa, lembrando que isso pode acontecer em virtude desses empresários não enxergarem valor no serviço que lhes é prestado.

Se esses empreendedores fossem conscientizados a respeito do valor da contabilidade para suas empresas, talvez concordassem em pagar mais para ter um serviço com mais qualidade.

O presidente do Sescon-SP, José Maria Chapina Alcazar, ressalta que é importante mostrar aos empresários que, com o atual cenário econômico mundial, as informações cedidas pela contabilidade são de importância inquestionável para a tomada de decisões.

O presidente do Sescon-SP, José Maria Chapina Alcazar, ressalta que é importante mostrar aos empresários que, com o atual cenário econômico mundial, as informações cedidas pela contabilidade são de importância inquestionável para a tomada de decisões.

Nessa luta pela disseminação da importância da profissão, o Prof. Ms Luciano Caricol Iaralham, da UniSant’Anna, parabeniza o Sescon-SP . “A entidade trabalha a imagem do contabilista e a sua importância para a sociedade de maneira eficiente e com muita eficácia.

Ao divulgar o papel, a responsabilidade e a seriedade do profissional de contabilidade, poderemos conscientizar a sociedade. Afinal, a propaganda é a alma do negócio”, diz.

Entidades se reúnem contra injustiças à contabilidade

Para o presidente do Sescon-SP, Chapina Alcazar, os profissionais do setor precisam estar atentos aos valores que tentam impingir à profissão contábil e reagir a qualquer ideal de fragilização.

“Não somos responsáveis por irregularidades praticadas por nossos clientes, até porque nossa função se limita à orientação e à consultoria, não nos permitindo restringir o livre arbítrio”, diz o líder setorial, ressaltando que é “inadmissível ver a contabilidade maculada quando ela é confundida com outras atividades ou ainda quando é exercida por leigos”

ed_258_pg21a.jpgDiante desse cenário, o Sescon-SP e as demais entidades congraçadas da contabilidade paulista decidiram, por unanimidade,criar um conselho de vigilância permanente, centralizado no CRC SP, para identificar, apurar e lutar contra injustiças e difamações à atividade. “Toda essa leviandade deve ser freada e a categoria está unida para buscar o resgate e a valorização da profissão contábil”, ressalta Chapina Alcazar.

Domingos Orestes Chiomento, do CRC SP,conta que a iniciativa nasceu em uma reunião com os líderes da profissão, tendo como finalidade cerrar fileiras sempre quando veiculadas situações que colocam em cheque o profissional da contabilidade. “Essa medida facilitará a apuração dos fatos, para em seguida tomarmos as providências necessárias”, acredita Chiomento.

No conselho, haverá uma equipe permanente acompanhando tudo o que ocorre na imprensa, uma ouvidoria que registrará tudo o que lhe for demandado, dando o encaminhamento de acordo com o assunto, e ainda um departamento que acolherá todas as denúncias escritas para análise.

Com o conselho de vigilância serão analisados todos os casos, e quando houver necessidade todas as Congraçadas serão convocadas para a tomada de providência.

“Esta é realmente uma iniciativa louvável, pois penso que as Congraçadas estão exercendo as prerrogativas previstas em seus respectivos Códigos de Ética, e estão fazendo a sua lição de casa”, declara Mota, da Fecontesp.

Para o professor Formigoni, do Mackenzie, a importância dessa iniciativa é o poder de manifestação. “Enquanto o contabilista, individualmente, enfrenta barreiras para se fazer ouvir, um órgão estruturado tem maior poder de divulgação”, afirma o docente.






http://www.sescon.org.br/revista-online/layout.php?topico=41&revista=99

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