Compliance e Poder - V -

Por Jedaias Jorge Salum

Vivendo o momento histórico pelo qual o nosso país está passando, não poderia deixar de refletir no péssimo exemplo que nossos políticos estão nos dando à luz deste tema tão importante e complexo, a relação entre compliance e poder. Portanto, nesta oportunidade faço uma breve pausa nas nossas reflexões relacionadas ao ambiente corporativo, e me dedico brevemente ao poder público.

Nos últimos tempos tenho tido calafrios ao ouvir os noticiários e perceber a serenidade, a tranquilidade e, por que não dizer, a cara de pau com que os nossos representantes lidam com o poder que lhes foi outorgado. Não posso abrir mão de sonhar e desejar que as coisas sejam minimamente diferentes desse show de horrores que testemunhamos todos os dias. O comportamento da nossa classe política é um exemplo quase perfeito de conduta non compliancedos que estão no poder. Seria perfeito, não fossem algumas raras exceções que não se venderam ao modus operandi.

Em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo no dia 30 de Julho de 2017, o ilustre juiz Sérgio Moro lamentou: “… eu vejo uma ausência de um discurso mais vigoroso por parte das autoridades políticas brasileiras em relação ao problema da corrupção”.  Penso que ele foi muito condescendente com os nossos políticos, uma vez que o que eles estão fazendo, e de forma vigorosa, é exatamente o contrário – haja vista a recepção e tratamento dados às 10 medidas propostas pelo Ministério Público para o combate à corrupção, já lançadas no limbo do esquecimento, tanto dos nossos congressistas quanto do nosso povo.

Estes péssimos exemplos se materializam diante de nós todos os dias: na majoração dos salários, dos seus próprios benefícios diretos e indiretos, em negociatas com fornecedores, subornos e propinas, em conluios para superfaturamento de obras, em projetos de lei comprados para atender aos amigos e por aí vai. Difícil escolher uma destas áreas para ilustrar o uso non compliance do poder, tal a abundância de casos à disposição.

Em meio a tantas opções, destaco o desespero que se abateu sobre os partidos políticos no afã de conseguir dinheiro para as campanhas eleitorais do próximo ano. O poder legislativo está concentrando energias em aprovar um gigantesco fundo partidário, com verba pública, para a gastança desenfreada em suas sujas campanhas eleitorais. Como conceber tal desfaçatez em tempos de profunda crise fiscal e de imposição de mais carga tributária ao povo brasileiro para tentar fechar as contas públicas?

Outro exemplo que merece consideração é o comportamento dos partidos políticos ao longo do tempo, no desenrolar dos fatos desta bendita operação coordenada pela república de Curitiba. Enquanto o foco parecia estar num determinado partido, os outros surfaram a onda e se deleitaram com a derrocada daquele. Quando os ventos viraram e todos se viram no olho do furacão, os “inimigos” se uniram para fazer a força tarefa Lava Jato sangrar, se possível até a morte.

Finalmente, como considerar compliance um acordo de leniência feito às pressas, sem nenhuma transparência e que privilegia com plena liberdade o perpetrador dos mais absurdos crimes de corrupção e abuso do poder econômico?

Se o exemplo é o melhor ensino, o que estamos recebendo produzirá o país da bandidagem. Muito triste ver o Brasil sofrendo nas mãos de gente que assassinou a consciência, perdeu o mínimo de  sensibilidade ética e moral e já não tem mais escrúpulos. Com exemplos desta natureza vindos de cima, o que esperar do cidadão comum? O que esperar dos executivos e dos empresários? Se quisermos um país melhor para os nossos filhos e netos, precisamos urgentemente nos engajar numa revolução da consciência e do comportamento para resgatar valores e princípios que estão se perdendo na nossa sociedade.

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