Compliance e Consciência – II –

Por Jedaias Jorge Salum

Em tempos de massificante exposição da corrupção de políticos e empresários, falar sobre questões relacionadas a comportamento, atitude, caráter, honestidade, sinceridade e confiança já se tornou uma emergência. Desvios de conduta não são propriedade exclusiva dos que estão na mídia a toda hora, mas uma infeliz característica do nosso povo com sua cultura, aquela que carinhosamente chamamos de jeitinho brasileiro.

Trata-se de uma especial habilidade de lidar com dificuldades de última hora, de resolver rapidamente questões complicadas, de colocar panos quentes numa situação de conflito entre outros exemplos. Se parássemos por aqui, esta capacidade especial seria uma virtude. O problema surge quando este dom é usado para inventar descaminhos, encontrar atalhos escusos, criar uma nova forma de burlar, extorquir, confundir, subornar e intimidar, tudo isto com o objetivo de alcançar algum benefício próprio. Neste caso, o que era virtude se transforma num defeito de graves proporções.

Vamos a alguns pequenos e corriqueiros exemplos, apenas para fixar o ponto. Já ouviram falar de “gato”? Não, não estou me referindo ao bichano, mas àquelas ligações ilegais feitas em redes públicas de energia e água, ou mesmo, em redes privadas de TV a cabo e, mais recentemente, facilitadas pelos roteadores WiFi. Muito provavelmente, você deve conhecer alguns amigos “espertos” que usufruem de algo desta natureza.

Poderia tomar o tempo para ilustrar com inúmeros outros exemplos do dia a dia, de como a nossa cultura está arraigada à ideia de se levar vantagem em tudo, exatamente como proposto numa antiga propaganda de cigarros, que acabou por se tornar conhecida como “lei de Gerson”: Leve, você também, vantagem em tudo!

À luz deste breve pano de fundo, compliance deixa de ser apenas mais um modismo e passa a ser uma urgente necessidade da nossa sociedade, que extrapole as formalidades de instituições publicas ou privadas, empresas e bancos, e permeie a conduta individual de todo e qualquer cidadão, em toda e qualquer situação.

A reflexão que proponho é como, de que maneira, seria possível erradicar o comportamento non compliance? Temos testemunhado uma onda de leis e regulamentações, programas e treinamentos, implantação de sistemas e softwares de gestão, tudo sendo feito para impedir ou dificultar desvios de conduta. Estas medidas são efetivas, resolvem o problema? A que custo? Com que nível de segurança?

Minha intuição diz que se não houver um controle que atue no campo da vontade, na motivação e na intenção das pessoas, nada disto poderá assegurar que o empregado, o governante, a autoridade, o diretor ou quem quer que seja, vá se portar sempre da forma correta. O nosso jeitinho, aliado à cultura da lei de Gerson, encontrará meios de contornar os mais sofisticados controles e levar avante projetos desonestos.

Precisamos de uma nova cultura, na verdade, de uma contracultura com uma lei de Gerson ao avesso. Esta contracultura emergirá quando a consciência tomar a liderança das atitudes e do comportamento, quando a consciência não puder mais ser anulada com racionalizações como “todo mundo faz”, “isto é assim mesmo”, “não tem jeito” e outras da mesma essência. Esta contracultura triunfará quando a consciência se rebelar contra o status quo e se colocar no seu lugar de proeminência e nos impelir às boas práticas, mesmo que não haja nada escrito a respeito, alguém a nos supervisionar ou uma câmera a nos filmar.

Sem uma revolução da consciência e o estabelecimento desta contracultura, não haverá limites para a genialidade e criatividade do brasileiro com seu jeitinho.

https://blogsucessoempresarial.com/compliance-e-consciencia-ii/

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